Posted on 24/02/2020 by Ana Cristina Da Costa Diniz

Virabhadrasana - A postura do Guerreiro e a autosuperação inerente


Virabhadrasana - A postura do Guerreiro e a autosuperação inerente

Kumarasambhava (O Nascimento do Senhor da Guerra) é um famoso poema épico em sânscrito da autoria do poeta Kalidas. Reza a história da mitologia hindu que o grande rei Daksa celebrou em tempos um sacrifício para o qual não convidou nem a sua filha Sati nem seu marido Shiva, o chefe dos deuses. Apesar disso Sati compareceu ao sacrifício, tendo sido humilhada e insultada o que a levou a atirar-se ao fogo ardente acabando assim com a sua própria vida. Shiva, encolerizado, arrancou um cabelo das suas longas tranças e atirou-o ao chão como um raio fulminante. Daí nasceu um poderoso herói chamado Virabhadra que fielmente aguardou as ordens de Shiva. Foi-lhe dito que comandasse o seu exército contra Daksa, que destruísse todos os poderes conferidos no sacrifício e que decapitasse o rei. E assim aconteceu! Shiva, com o coração destroçado por amor a Sita dirigiu-se ao monte Kailas, nos grandiosos Himalaias e mergulhou em profunda meditação. Volvido algum tempo Sati nasceu de novo, encarnada em Uma, a qual lutou pelo amor de Shiva tendo acabado por o conquistar.

As posturas (asanas) abaixo descritas são dedicadas ao poderoso guerreiro Virabhadra, criado a partir do cabelo de Shiva, divindade e fundador mitológico do Yoga.

 

Virabhadrasana A - A postura do Guerreiro A

 

Quando se pratica Asthanga Yoga apostura do guerreiro é feita a seguir ao V invertido (Adho mukha svanasana),fazendo parte de uma sequência rápida de posturas com um sentido encadeante e um propósito de facilitarem e abrirem caminho às que vêm a seguir. Vou, contudo, descrever a postura como se fosse construída isoladamente. Trata-se de uma postura muito vigorosa e de grande esforço físico.

Como fazer a postura:

Iniciar com os pés unido, inspirar e dar um passo grande atrás com o pé direito, rodá-lo 30 graus para afrente, manter esta perna alongada. Expirar. 

Rodar a bacia do lado direito para a frente, ajustar a pélvis e ancas de modo a que o tronco esteja o máximo voltado para a frente. 

Inspirar, erguer os braços sobre a cabeça, unindo as palmas das mãos ou mantendo os braços afastados com as palmas das mãos viradas uma para a outra ou cruzando os dedos das mãos, apontando os indicadores ao céu (Kali mudra). Ao mesmo tempo fletir a perna esquerda, joelho esquerdo a 90 graus e baixar a bacia.  O joelho esquerdo deve procurar estar alinhado com o calcanhar e não devemos deixá-lo tombar para dentro. 

Coluna vertebral direita, bem alongada, desde o sacro até à cervical, como se essa energia fluísse até à ponta dos dedos das mãos. 

A perna de trás deve estar completamente ativa, alongada e devemos pressionar bem a parte exterior do pé direito no chão. 

O olhar dirige-se para os dedos das mãos (drishti é a fixação do olhar num ponto específico, neste caso nos polegares). A cabeça deve descair apenas o suficiente para conseguir ver os polegares.

Contrair a musculatura abdominal(fazer uddiyana bandha). Manter a postura por 5 respirações completas.

Voltar ao ponto de partida no final da quinta respiração completa, inspirando e juntando de novo os pés. Repetir as indicações acima descritas, mas agora com a perna esquerda atrás e a direita fletida à frente.

Efeitos: o peito expande permitindo uma respiração profunda. Alivia a rigidez no pescoço, nos ombros e nas costas, tonifica os tornozelos e os joelhos e elimina gorduras junto à bacia.

 

Virabhadrasana B - A postura do Guerreiro B

Como fazer a postura:

Pés unidos à frente, inspirar e dar um passo grande com o pé direito atrás. A perna direita deverá manter-se bem ativa e tracionada e o pé rodado 30 graus para a frente com o rebordo exterior bem pressionado no chão. Podemos verificar e alinhar os calcanhares dos 2 pés. 

O tronco fica de lado. Inspiramos e erguemos os braços paralelos ao chão e perpendiculares ao tronco, alinhados com os ombros, palmas das mãos para baixo. Energia nos braços até à ponta dos dedos, como se alguém nos puxasse as mãos dos lados opostos. 

Expirando fletimos a perna esquerda, com o joelho a 90 graus, zelando para que este não se incline para dentro e se mantenha alinhado com o calcanhar esquerdo. Baixar a bacia. 

Dirigir e fixar o olhar (drishti) no dorso da mão esquerda à frente. 

Contrair a musculatura abdominal(fazer uddiyana bandha). Manter a postura durante 5 respirações completas.

Quando finalizar as 5respirações, inspire e volte a unir os pés à frente, repetindo depois tudo para o outro lado, iniciando agora com a perna esquerda alongada atrás e a perna direita fletida à frente.

Efeitos: fortalece e modela os músculos das pernas. Alivia cãibras nas coxas e nos gémeos. Potencia elasticidade nos músculos das costas e das pernas e tonifica os órgãos abdominais.

Em ambas as posturas procuramos e fortalecemos a nossa alma de guerreiros, lutando e enfrentando avida com determinação, respeito e com a sabedoria que vamos adquirindo.

 

Como, pessoalmente, nunca separo a prática do yoga da sua ética e filosofia de vida, cabe aqui também relembrara grande importância de um dos princípios éticos do yoga: Tapas é o termo em sânscrito, o que em português poderíamos referir como uma vontade de autossuperação, ou seja, o nosso ímpeto de guerreiros.

Tapas é o desejo ardente e a convicção que vamos agir e que a vitória será nossa. É quando lutamos e nos superamos, quando nos dedicamos de coração e mente a uma causa, certamente o que Virabhadra sentiu, instigado pela ordem de Shiva.

Na postura do guerreiro e noutras tantas, no tapete de yoga e no nosso quotidiano, é bom ouvirmos e seguirmos essa vontade de autossuperação, que num brevíssimo segundo nos sussurra para irmos em frente pois vamos conseguir mesmo que o medo surja e os receios sejam vários. 

Tapas é o uso disciplinado da nossa energia, um modo de a direcionar. É usar o nosso empenho, rigor e a força da nossa convicção para avançar e conquistar os nossos propósitos. 

Ao praticar Tapas, essa sabedoria de autossuperação e vontade ardente pela conquista, o Yogi desenvolve um corpo, uma mente e um carácter forte e são; ganha coragem, integridade, e avisão acutilante de quem sabe bem a direção a seguir!

Boas práticas!


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