Escrever … expor … quando alguém escreve algo, algo saí de si e poderá ou não impregnar outrem. Penso … porque não escrever e expor, retirar de mim algo que considero uma limitação minha.
Na verdade existo e acabo por aprender a lidar bem com essa limitação, aceitar que é tal como é neste preciso momento. E assim também é digno e também é bom.
Já se sabe que no Yoga o que é importante não é o fim mas sim o caminho que percorremos, a consciência exata do que existe, e um dos princípios base do Yoga, é a aceitação – Ksanti. Aceitar que é como é, mas aceitar com o coração, sem frustração. O que não significa que não possamos mudar, influenciar, melhorar. Mas por enquanto aceitamos sem que esse condicionalismo nos fruste, nos entristeça. É como um professor meu disse e nunca mais me esqueci, Ksanti, a aceitação, equivale a 99% de libertação. E libertação de quê? Dos nossos condicionalismos, das nossas limitações; e é por aí o caminho para moksa, a libertação, a iluminação.
Então, para esta edição prática da revista vou expor uma minha limitação, e alguns caminhos para a superar, pois pode dar-se o caso que exista outro semelhante meu que se depare com a mesma dificuldade.
Refiro-me às posições de equilíbrio, aos ásanas de equilíbrio em pé sobre uma perna só, nomeadamente à belíssima Postura da Árvore – Vrikshásana.
Pese embora a dificuldade em manter a postura da árvore com estabilidade e durante algumas respirações, diria que para “conquistar” essa postura (ásana) devemos, em primeiro lugar, privilegiar quase unicamente o pránáyáma, ou seja fazer uma respiração consciente, lenta, profunda, completa, respirar inspirando o ar desde a parte abdominal, depois toráxica, e por último encher de ar a parte superior ou clavicular dos pulmões e expirar invertendo essas fases. Na verdade, como sabemos, no Yoga o importante mesmo é a nossa respiração, é ela que nos guia durante a nossa prática, e se o ásana não é como o ego gostaria que fosse … pois respiramos o que é, aceitando tal como é nesse preciso momento. O resto virá com o tempo e a prática.
E uma respiração consciente vai consequentemente estabilizar a mente e ajudar a focar no momento presente, no aqui e no agora, e por de lado as oscilações da mente. Devemos focarmo-nos apenas na nossa respiração e tentar deixar passar os pensamentos que nos limitam, os pensamentos negativos, os “não consigo”. A nossa mente também deve acreditar que vai conseguir.
Em termos físicos devemos tracionar bem o corpo, com a respiração ganhar espaço dentro de nós, procurar a abertura de tronco, a abertura de anca e treinar, treinar.
Partilho alguns exercícios preparatórios para alcançar Vrikshásana:
- Encostados a uma esquina de parede, trabalhar apenas a parte superior do corpo, ganhar abertura de peito. Concentrarmo-nos só nisto: inspirar profundamente, abrir peito, braços abertos à largura dos ombros, ganhar espaço, ganhar espaço, erguer os braços e descê-los expirando, colocar mãos unidas frente ao peito em Añjali Mudrā (palma das mãos unidas). Treinar estas posturas várias vezes seguidas.
- Outro modo de ganhar espaço, tracionar o tronco, fazer abertura de peito para que o prana (energia vital) flua bem, é deitar-se na ponta de uma cama, com a zona clavicular mesmo na ponta da cama, quase a cair, cabeça descida e abrir braços à largura do peito. Pernas podem ficar dobradas com os joelhos para cima e mãos podem também ficar repousadas no abdómen. Manter-se simplesmente assim.
- Podemos trabalhar a parte inferior do corpo separadamente da superior, para mais tarde poder unir as duas valências. Como o fazer? Do seguinte modo: pernas bem tracionadas, cóccix a apontar para baixo, zona da bacia para a frente, nádegas contraídas, abdómen contraído. Esta postura é feita junto a uma parede, para apoio de uma mão quando necessário. É feita para um lado e depois para o outro, trabalhando ambas as pernas alternadamente. Começando pela perna esquerda no chão, apoiamos se necessário a mão esquerda na parede, inspiramos, mão direita pega no pé direito e ao expirar colocamos o pé direito junto à virilha esquerda, a perna direita faz um ângulo. Olhar fixo num ponto em frente, respiramos calma e profundamente, respiração essencialmente abdominal (adhama) e toráxica / intercostal (madhyama). Fazemos alguns ciclos respiratórios, o corpo numa posição firme, contraída, mas confortável; após manter-se assim por algum tempo, fazer o mesmo exercício mas com a perna direita tracionada no chão, mão direita apoiada à parede se necessário, nádegas, pernas, abdómen contraídos, bacia para a frente, cóccix a apontar para baixo, respiramos como acima descrito, mão pega no tornozelo esquerdo e coloca-o junto à virilha direita. Mantemo-nos assim por algum tempo.
A ativação muscular neste ásana é muito importante, assim como a ativação pélvica, trazer energia para a zona gástrica (pitta), criar espaço nas articulações da anca, criar espaço pélvico, tudo isso é bom para a perfeita circulação do prána (energia vital), para fazer circular a energia e para melhorar a circulação sanguínea.
- Trabalhar a abertura na zona dos joelhos também é bom; sentados no chão, com a bacia bem apoiada no chão, pernas cruzadas e suavemente ir ajudando o joelho a baixar e aproximar-se do chão.
- O conceito de manásika é algo que me agrada muito, foi para mim uma boa descoberta, pois significa que quando queremos conquistar algo o devemos primeiro fazer mentalmente para ganhar prática mentalmente.
- Fazer adho mukha svanásana para ajudar a criar espaço.
- Fazer Utthita Trikonásana com consciência, abrir o peito, consciência no coração, ganhar espaço.
- Expandir, ativar as articulações, trazer consciência ao corpo, trabalhar as rotações internas e externas.
- Algo que acho que ajuda e torna tudo mais simples, exatamente porque há mais espaço no corpo, vayu (o ar vital, vento) circula mais e com mais fluidez, é erguer os braços acima da cabeça e colocar as mão unidas em kali mudra (dedos das mãos entrelaçados e indicadores esticados a apontar para cima)
Outros conceitos a ter presentes:
- Estar coeso, se relaxar, a energia dispersa;
- Expandir o prána através do ásana, usar os bandhas (contracções musculares) e pránáyámas (exercícios respiratórios) de forma consciente;
- Sentar em padmásana para flexibilizar a anca;
- Deixar fluir, deixar ser, mesmo quando não se consegue;
- Ter presente que pránáyámas, ásanas, bandhas, nauli são o começo e que quando se junta tudo, algo maior acontece. Dar também tempo ao tempo, ao corpo e à mente. Não há caixas, tudo se interliga!
- Não querer reter tudo, outras oportunidades virão. Tudo tem o seu tempo!
- Sossegar, manter a mente aberta;
- Ter sempre presente os valores Ahimsá (não violência) e Satya (verdade), em primeiro lugar respeitá-los para connosco próprios;
- Não se comparar a ninguém, a partir do momento que nos comparamos e arranjamos um modelo deixamos de ser Nós, deixamos de ser espontâneos;
- Observar-se (e aos outros) sem julgar;
- Ter consciência de que o que cansa mais é aquela ideia de que devia ser diferente;
- A harmonia reflete-se na respiração, é isso que vai permitir sustentar o ásana, depois vem o lado mental “fico, não fico no ásana??”, e pode ser a mente que faz colapsar!
- Saber que a aprendizagem tem uma sequência e só depois existe a consolidação;
- Acreditar em nós, viver no Agora e no Aqui.
- Viver em YOGA
E é isso