Posted on 24/02/2020 by Ana Cristina Da Costa Diniz

Yoganidra


Yoganidra

Creio que o Yoganidra é das técnicas de yoga mais agradáveis e relaxantes, sabe sempre bem quando, próximos do final de uma prática de yoga chegamos ao almejado Yoganidra.

Trata-se de uma técnica de relaxamento profundo quer a nível físico, mental e espiritual, durante a qual se procura desligar completamente o corpo, entregando-o à descontração, abandonando o corpo de encontro ao chão, mantendo porém a mente completamente consciente e ativa e procurando não adormecer durante essa prática para que os seus efeitos sejam melhor sentidos e conduzam a uma revigoração da pessoa como um todo.

O termo yoganidra divide-se em duas palavras principais: yoga e nidra. Yoga é uma palavra em sânscrito que deriva da raiz Yuj, que significa controlar, unir, concentração, consciência ou seja yoga é uma prática na qual estamos sempre presentes e conscientes do que está a ocorrer na altura; já nidra significa sono, um estado em que a consciência se desvanece. O que se procura é um sono consciente ou um sono yogi, através da supressão das oscilações psico-mentais (vrittis).

Partindo do estado de vigília (jagratavastha), com a mente sempre consciente, afloramos um estado semelhante ao sono (sushuptyavastha), tentando atingir o turiyavastha, o quarto estado de consciência (o terceiro é o sonho), durante o qual se procura ter uma experiência direta do Atman, do Eu mais profundo.

O yoganidra tem as suas origens na técnica nyasa do Tantra, prática cujos primeiros registos datam de 3.000 a.C. e que tem como principal característica a organização social matriarcal, evidenciando-se ainda outras duas, que são a sensorialidade e a ausência de repressão. No Tantra não existe censura nem sentimento de culpa, não se deve negar o corpo, o desenvolvimento interior acontece através do prazer e da não repressão, os instintos e emoções são valorizados e não reprimidos, são considerados como naturais. Além das origens no Tantra, o Yoganidra provem também das tradições alquímicas europeias e do xamanismo.

A sua divulgação foi feita essencialmente pelo swami indiano Satyananda Saraswati (1923-2009) e amplamente divulgada não apenas no norte da Índia mas por todo o mundo como sendo uma técnica que relaxa profundamente corpo e mente, durante a qual o corpo assimila o trabalho físico anteriormente feito durante a prática do yoga, é algo que nos trás rejuvenescimento e tem a potencialidade de fortalecer e expandir a consciência.

  

Como devemos praticar yoganidra?

Normalmente o yoganidra é guiado por um professor de yoga, mas o praticante poderá também induzir o seu próprio relaxamento.

Devemos praticar deitados, o nome deste ásana em sânscrito é shavásana ou mritásana, sendo que shava significa cadáver, mas não devemos remeter os pensamentos para algo desagradável mas sim encarar a situação como se fosse um desligar, um apagar do corpo físico.

A posição escolhida maioritariamente é em decúbito dorsal (Uttara shavásana) pois reduz os estímulos sensoriais ao mínimo, com as pernas abertas à largura pélvica, os braços ao longo do corpo, sem haver muitos pontos de contato no corpo, as palmas das mãos viradas para cima (apenas quando o praticante tem uma tendência natural para adormecer o deverá fazer com as palmas das mãos viradas para baixo em contato com o chão, pois trás mais presença), olhos fechados, queixo em direção ao esterno. O praticante poderá estar vestido ou com vestuário reduzido, o mais adequado é descalço ou com umas meias. Poderá ser colocada uma manta a tapar todo o corpo, uma vez que o yoganidra é feito posteriormente a uma prática de yoga e o corpo tem tendência a arrefecer.

Outras posturas físicas apropriadas para o yoganidra são: swara shavásana (decúbito dorsal com pernas fletidas, joelhos juntos, planta dos pés no chão), udara shavásana (decúbito ventral, face para o lado), maha shavásana (decúbito dorsal com os braços para cima e bem afastados do tronco causando um relaxamento ainda maior), parschwa shavásana (decúbito lateral; deitada virada para o lado esquerdo é a posição recomendada para as grávidas porque diminui a compressão da veia cava inferior.) Também se poderão usar acessórios (mantas, almofadas, etc) para ajustar o corpo de modo a que fique o mais confortável possível.

Outras condições a ter em consideração antes do yoganidra são: deverá ter havido algum exercício físico anterior, o mínimo poderá ser espreguiçar, estirar bem braços e pernas. Deverá ser feito após refeições leves ou idealmente sem nada no estômago. Também poderá utilizar-se música suave, sem voz, e deverá acautelar-se para que exista um momento de silêncio. O local onde se pratica deverá ter temperatura amena, ser um espaço calmo e com luz na penumbra. Esta técnica tem melhores resultados se for feita depois da prática de yoga e antes da meditação.

Durante o yoganidra podemos também fazer o nosso sankalpa, que é uma firme resolução, uma intenção, um desejo intenso, algo que queiramos muito que se realize na nossa vida como se estivesse já a acontecer. O sankalpa deverá ser feito mentalmente, sem ser pronunciado e consiste numa frase curta, positiva, no tempo presente. Cada uma das pessoas que estiver a ser guiada no yoganidra saberá qual a sua resolução, mas frases exemplificativas poderão ser “Sou saúde”, “Sou coragem”, ”Vivo com gratidão” e podem também ser usadas imagens, sons, paladares, odores e sensações. O sankalpa para ter o efeito pretendido deverá ser o mesmo durante cerca de 15 dias e em cada prática repetido duas vezes.

Por vezes existe a tendência das pessoas adormecerem durante o yoganidra e idealmente deve permanecer-se acordado para um maior relaxamento. Algumas das técnicas para o conseguir é fazer shirshásana (invertida sobre a cabeça) ou outra postura qualquer invertida, antes da prática tomar um duche quente e terminá-lo com água fria, se usar manta a cobrir o corpo manter os pés destapados, deixar as palmas das mãos voltadas para baixo para obter maior enraizamento, fazer o yoganidra com os olhos abertos ou semicerrados, fazer o pranayama (exercício de expansão e controlo da respiração) bastrika (respiração do fole, que energiza), dar indicação às pessoas para ir repetindo mentalmente as instruções que estão a receber durante o yoganidra e em último caso, fazer o exercício sentado ou em pé.

Muitas pessoas mostram interesse em fazer o seu próprio yoganidra, especialmente à noite quando tentam descontrair para poder usufruir depois de uma perfeita noite de sono. Aqui ficam uma dicas para praticar sozinho, a primeira das quais é ser a pessoa a guiar o seu próprio yoganidra começando pelo foco e descontração das partes do corpo e usar depois visualizações trabalhando a rotação da consciência (ex: inspirar e sentir nuvem a envolver o corpo, imaginar-se numa praia, envolvido no universo, etc), poderão fazer micro relaxamentos (ex: contrair um braço e soltar) e ainda usar cds gravados ou sites da internet.

 

A técnica de yoganidra obedece a determinadas fases que são as seguintes:

Entrada: É o trabalho de consciencialização e descontração corporal guiadas, da parte mais densa do corpo à mais subtil, ou seja começando por levar a consciência e o subsequente relaxamento da pessoa aos seus dedos dos pés, à planta dos pés, tornozelo, pernas, joelhos, coxas, genitais, ancas e ir subindo ao longo de todo o corpo. Também poderá ser feito de modo inverso ou começando pelo lado direito do corpo e depois fazer referência a todo o lado esquerdo do corpo. Pode usar-se o sankalpa nesta fase. É importante aqui usar-se um dispositivo de segurança, i.e. dizer ao praticante que vai ouvir, contudo filtrar e assimilar apenas aquilo que achar por bem ou que conseguir.

Utilização: É a parte real do yoganidra onde o estado de relaxamento é reconhecido e aprofundado. Podemos usar visualizações, descrever locais imaginários, criar situações com descrições precisas sobre cores, temperatura, cheiros etc. Deve usar-se o sankalpa nesta fase e é importante deixar a pessoa durante algum tempo em silêncio para que possa absorver a paz que esta técnica traz. Também podem usar-se técnicas de acesso à pessoa, com frases positivas impactantes ou usando palavras chave como por exemplo confiança, sucesso, coragem etc.

Preparação para a saída: Trata-se do retomar suave da consciência corporal, da reentrada sensorial e readaptação ao estado de vigília. Esta fase é fundamental para que a saída do relaxamento não seja abrupta, inclusive avisando que vamos terminar o yoganidra, que da próxima vez a descontração será ainda mais profunda, dando indicações para a pessoa ir retornando do estado de abandono e relaxamento em que se encontrava.

Saída: Nesta etapa guia-se o praticante a sair efetivamente do estado de relaxamento profundo  através de respirações mais energizantes, da movimentação da língua no interior da boca, da sensação do paladar, da temperatura, levando-o a movimentar os dedos das mãos e os pés, a espreguiçar-se, a abrir lentamente olhos, a ter consciência dos sons etc.  

Feita a descrição de mais uma das belas técnicas que o yoga tem à nossa disposição, resta desejar que as pessoas tenham a capacidade de relaxar e usufruir desta paragem corporal, que quase se impõe numa sociedade frenética e onde impera o controlo sobre tudo. É importante saber entregar-se, abandonar-se, descontrair o corpo em contato com a Terra que nos acolhe e deixar a mente relaxar, ampliar e viajar, com confiança e gratidão.

Boas práticas.

Namasté.

Cristina Diniz

913932157

Diniz.anacristina@gmail.com

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